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"A Internet aumenta o capital social" : interview (Brésil, 14 janv. 2012)

Sur le site Web de l’Institut Humanitas de la Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Brésil), une traduction de l’interview d’Antonio Casilli, auteur de Les liaisons numériques. Vers une nouvelle sociabilité ? (Ed. du Seuil), parue sur le quotidien italien La Repubblica le 10 janvier 2012. Initialement réalisée par Fabio Gambaro, l’interview a été traduite en portugais par Moisés Sbardelotto.

http://www.ihu.unisinos.br/noticias/505711-a-internet-aumenta-o-capital-social-entrevista-com-antonio-casilli

“A Internet aumenta o capital social”. Entrevista com Antonio Casilli

“O espaço virtual é uma teoria nascida da literatura. Ao contrário, vivemos em uma realidade mista”. “As revoluções não são feitas pelo Twitter e pelo Facebook, mas sim pelas pessoas que vão às ruas”. O estudioso Antonio Casilli publicou um livro na França em que desmente muitos dos clichês sobre o universo do computador.

A reportagem é de Fabio Gambaro, publicada no jornal La Repubblica, 10-01-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Transformando a nossa percepção do espaço, do corpo e das relações sociais, o universo das novas tecnologias digitais nos obriga a refletir criticamente sobre a natureza profunda da realidade em que vivemos. Uma reflexão à qual Antonio Casilli se dedica proficuamente, sendo especialista em culturas digitais e que, há vários anos, se mudou para a França, onde as suas análises sobre as novas formas de socialidade das redes são muito apreciadas e discutidas.

Em seu último livro, Les liaisons numériques (Ed. Seuil, 331 páginas), o estudioso critica radicalmente os falsos mitos que acompanharam o desenvolvimento das novas tecnologias, começando pelas ameaças do espaço virtual: “A teoria da desmaterialização da realidade produzida pelas novas tecnologias digitais é uma teoria filha da literatura dos anos 1980”, explica Casilli, que, depois de trabalhar na École des Haute Etudes en Sciences Sociales, leciona hoje no Telecom Paris Tech.

“Mais do que na dicotomia entre espaço real e espaço virtual, nós todos vivemos hoje em uma realidade mista, que poderíamos definir como uma realidade aumentada, em que o real é aumentado, amplificado, transformado pelo virtual. A nossa vida diária se desenvolve em uma contínua sobreposição de espaços reais e espaços cognitivos digitais. Por exemplo, enquanto estamos em um carro ou em um trem, nos movemos fisicamente no espaço, mas, ao mesmo tempo, graças aos smartphones, nos movemos também em outra dimensão virtual”.

Eis a entrevista.

A nossa relação com o espaço fica alterada?

O espaço se torna híbrido, e nós o percebemos como tal, reconfigurando-o continuamente. Exemplo disso é a separação entre espaço privado e espaço público, que está em contínuo movimento. Antes da Internet, a fronteira era bastante definida. Mas agora as mídias sociais permitem que se projete o espaço privado na rede, ou seja, em um contexto público. O Facebook ou o Twitter põem constantemente em discussão as nossas categorias de privado, que certamente não se dissolve, mas se reconfigura.

A privacidade não é mais a de antigamente?

Hoje, a privacidade não é mais “o direito de ficar sozinhos”, como dizia Louis Brandeis. A definição da privacidade é móvel e deve ser continuamente renegociada de acordo com as pessoas e as situações. O Twitter nos obriga a nos interrogar continuamente sobre a fronteira entre público e privado. Essa ginástica mental é muito cansativa. Para reaprender como adultos o que compartilhar e que não, gastam-se muitas energias e correm-se risco que depois devem ser pagos. No fundo, todos nós, hoje, estamos fazendo um aprendizado coletivo das novas mídias sociais. E, naturalmente, não é fácil encontrar a medida certa.

Nessa evolução, o corpo se torna uma interface entre nós e o mundo digital…

O espaço digital convida o corpo a entrar em cena na realidade virtual. Mesmo os blogs são uma maneira de entrar em cena, confrontando-se com os outros, o que sempre implica uma redefinição da percepção do nosso corpo com a escolta da imagem reenviada pelos outros. Nas mídias sociais, os outros intervém para validar a representação de nós mesmos. Assim, o corpo, que era um projeto de si, torna-se projeto de nós, para usar a terminologia de Michel Foucault. Naturalmente, se essa é uma oportunidade que permite enriquecer constantemente a nossa personalidade, também é verdade que tal situação pode produzir uma crise de identidade.

Com respeito às relações entre corpo e mundo digital, há quem advirta contra os riscos cognitivos da nossa dependência às novas tecnologias. O que você acha?

A informática é um prolongamento das mnemotécnicas do passado, que, naturalmente, não estavam voltadas a esvaziar o nosso cérebro, mas sim a torná-lo mais eficaz. Portanto, os computadores devem ser considerados como uma extensão da memória, e não como uma ameaça às capacidades cognitivas. O universo da informática é, para nós, uma espécie de prolongamento cognitivo, além de social, que nos permite um maior número de relações. A agenda do celular ou a lista de amigos no Facebook amplia o círculo dos conhecidos com quem mantemos contato.

Mas a Internet muitas vezes é acusada de dessocializar os indivíduos…

É um falso mito. Na realidade, a Internet produz novas formas de socialidade que nos permitem modular melhor o equilíbrio entre laços fortes e laços fracos, ou seja, aqueles laços potenciais que solicitamos de modo descontínuo. No Facebook, se, no início, prevalecem os contatos com as pessoas que são mais importante para nós, em seguida, tornando-nos amigos de amigos, ampliamos o círculo dos laços fracos, fazendo-os durar no tempo. No fim, a proporção entre laços fortes e fracos é muito diferente da que está presente na vida real.

Consequentemente, as mídias sociais oferecem uma socialidade mais rica, que nos permite entrar em contato com ambientes que, anteriormente, estavam fechados para nós. Antes da Internet, vivíamos em uma sociedade de pequenas caixas – a família, o país, o trabalho etc. –  dentro da qual estávamos unidos aos outros por fortes laços. Com a Internet, essas caixinhas continuam existindo, mas, além delas, dispomos de passarelas para muitas outras caixas, isto é, para outras realidades sociais, com as quais talvez conservamos apenas laços fracos. Enfim, encontramo-nos no centro de redes glocais, no sentido de que são globais e locais ao mesmo tempo.

O que muda para o indivíduo?

As vantagens são múltiplas, sobretudo em termos de capital social, isto é, o conjunto dos recursos sociais que cada indivíduo tem à disposição para se realizar no plano pessoal, profissional, social, cultural etc. As mídias sociais nos permitem incrementar e modular melhor o capital social. Os amigos em rede são um recurso social.

Isso nos obriga a repensar o conceito de amizade?

Na verdade, durante séculos, privilegiamos a definição humanista da amizade. Baseando-nos em Cícero, Sêneca ou Montaigne, pensamos a amizade como um laço desinteressado, privado e caracterizado por uma cooperação forte. Em rede, à amizade tradicional que ainda continua existindo, sobrepõe-se um outro tipo de vínculo que também pode ser utilitarista. Esse laço, além de ser público e ficar gravado em um banco de dados, pode dar lugar a uma cooperação não simétrica. Na amizade clássica, a relação sempre é recíproca, não podemos ser amigos de alguém que não é nosso amigo. No Twitter, podemos seguir alguém que não nos segue.

Modificando as relações entre as pessoas, a Internet transforma também as modalidades da ação política?

Os mais otimistas enfatizam as virtudes democráticas da rede, lembrando, por exemplo, que a primavera árabe seria o típico prolongamento desse espírito democrático. Mas eu penso que a Internet é sobretudo um estilo político, que pode ser adotado por realidades ideológicas muito diferentes. Vemos isso nos EUA, onde o tanto o Tea Party quanto o Occupy Wall Street exploram a fundo as mídias sociais, dando lugar a uma organização horizontal sem hierarquia e de geometria variável. Essa estrutura pode ser muito eficaz, mas não devemos criar muitas ilusões. As revoluções não são feitas pelo Twitter ou pelo Facebook. São feitas sempre pelas pessoas reais que saem às ruas. As mídias sociais podem só coordenar, trocar e ampliar as recaídas do real. Mas sem jamais substituí-las.

"Relazioni digitali" : Antonio Casilli interviewé par La Repubblica (Italie, 10 janv. 2012)

Sur le quotidien La Repubblica, le journaliste Fabio Gambaro interviewe Antonio Casilli, auteur de Les liaisons numériques. Vers une nouvelle sociabilité ? (Ed. du Seuil). Corps, redéfinition de la vie privée en ligne, apprentissage social des nouveaux usages et engagement politique… ce sont les sujets traités dans cette interview – la première accordée par le sociologue à la presse italienne depuis 2001.

Cliquer sur l'image pour le texte complet en pdf de l'interview

Relazioni digitali

Intervista allo studioso Antonio Casilli, che ha pubblicato in Francia un saggio dove smentisce molti luoghi comuni sull´universo informatico

PARIGI Trasformando la nostra percezione dello spazio, del corpo e delle relazioni sociali, l´universo delle nuove tecnologie digitali ci costringe a riflettere criticamente sulla natura profonda della realtà in cui viviamo. Una riflessione a cui si dedica proficuamente Antonio Casilli, specialista delle culture digitali che da diversi anni si è trasferito in Francia, dove le sue analisi sulle nuove forme di socialità della rete sono molto apprezzate e discusse. Nel suo ultimo saggio, Les liaisons numériques (Seuil, pagg. 331, euro 20), lo studioso critica radicalmente i falsi miti che hanno accompagnato lo sviluppo delle nuove tecnologie, a cominciare da quello relativo alle minacce dello spazio virtuale: «La teoria della smaterializzazione del reale prodotta dalle nuove tecnologie digitali è una teoria figlia della letteratura degli anni Ottanta», spiega Casilli, che dopo aver lavorato all´École des Haute Etudes en Sciences Sociales, oggi insegna a Telecom Paris Tech. «Più che nella dicotomia tra spazio reale e spazio virtuale, noi tutti oggi viviamo in una realtà mista, che potremmo definire una realtà aumentata, dove il reale è aumentato, amplificato, trasformato dal virtuale. La nostra vita quotidiana si svolge in una continua sovrapposizione di spazi reali e spazi cognitivi digitali. Ad esempio, mentre siamo in auto o in treno, ci spostiamo fisicamente nello spazio ma contemporaneamente, grazie agli smartphone, ci muoviamo anche in un’altra dimensione virtuale».

(…)
«Oggi la privacy non è più “il diritto di essere da soli”, come diceva Louis Brandeis. La definizione della privacy è mobile e va rinegoziata di continuo a seconda delle persone e delle situazioni. Twitter ci obbliga a interrogarci continuamente sul confine tra pubblico e privato. Questa ginnastica mentale è molto faticosa. Per reimparare da adulti cosa condividere e cosa no, si spendono molte energie e si rischiano errori che poi si pagano. In fondo, tutti noi oggi stiamo facendo un apprendistato collettivo dei nuovi media sociali. E naturalmente non è facile trovare la giusta misura».

In questa evoluzione il corpo diventa un´interfaccia tra noi e il mondo digitale…
«Lo spazio digitale invita il corpo a mettersi in scena nella realtà virtuale. Anche i blog sono una maniera di mettersi in scena, confrontandosi con gli altri, il che implica sempre una ridefinizione della percezione del nostro corpo sulla scorta dell´immagine rinviata dagli altri. Nei media sociali gli altri intervengono a convalidare la rappresentazione di noi stessi. Così, il corpo, che era progetto di sé, diventa progetto di noi, per usare la terminologia di Michel Foucault. Naturalmente, se questa è un´opportunità che consente di arricchire costantemente la nostra personalità, è anche vero che tale situazione può produrre una crisi d´identità.»

A proposito delle relazioni tra corpo e mondo digitale, c´è chi mette in guardia contro i rischi cognitivi della nostra dipendenza dalle nuove tecnologie. Lei che ne pensa?
«L´informatica è un prolungamento delle mnemotecniche del passato, le quali naturalmente non erano votate a svuotare il nostro cervello ma a renderlo più efficace. I computer vanno quindi considerati come un´estensione della memoria e non come una minaccia per le capacità cognitive. L´universo informatico è per noi una sorta di prolunga cognitiva, nonché sociale che ci consente un maggior numero di relazioni. L´agenda del telefonino o la lista di amici su Facebook ampliano la cerchia delle conoscenze con cui restiamo in contatto».

Internet però è spesso accusato di desocializzare gli individui…
«È un falso mito. In realtà Internet produce nuove forme di socialità che ci consentono di modulare meglio l´equilibrio tra legami forti e legami deboli, vale a dire quei legami potenziali che sollecitiamo in modo discontinuo. Su Facebook, se all´inizio prevalgono i contatti con le persone che per noi sono più importanti, in seguito, diventando amici di amici, allarghiamo la cerchia dei legami deboli, facendoli durare nel tempo. Alla fine, la proporzione tra legami forti e deboli è molto diversa da quella presente nella vita reale. Di conseguenza, i media sociali offrono una socialità più ricca, che ci consente di entrare in contatto con ambienti che in precedenza ci erano preclusi. Prima di Internet vivevamo in una società di piccole scatole – la famiglia, il paese, il lavoro, ecc. – al cui interno eravamo uniti agli altri da legami forti. Con Internet, queste piccole scatole continuano ad esistere, ma inoltre disponiamo di passerelle verso molte altre scatole, vale a dire altre realtà sociali, con le quali magari conserviamo solo legami deboli. Insomma, ci troviamo al centro di reti glocali, nel senso che sono globali e locali allo stesso tempo».

(…)

Ciò ci obbliga a ripensare la concezione dell´amicizia?
«In effetti, per secoli abbiamo privilegiato la definizione umanistica dell´amicizia. Basandoci su Cicerone, Seneca o Montaigne, abbiamo pensato l´amicizia come un legame disinteressato, privato e caratterizzato da una cooperazione forte. In rete, all´amicizia tradizionale, che comunque continua ad esistere, si sovrappone un altro tipo di legame che può essere anche utilitaristico. Questo legame, oltre ad essere pubblico e registrato in un database, può dar luogo a una cooperazione non simmetrica. Nell´amicizia classica infatti la relazione è sempre reciproca, non si può esser amici di qualcuno che non ci è amico. Su Twitter possiamo seguire qualcuno che non ci segue».

Modificando le relazioni tra le persone, Internet trasforma anche le modalità dell´azione politica?
«I più ottimisti sottolineano le virtù democratiche della rete, ricordando ad esempio che la primavera araba sarebbe il tipico prolungamento di questo spirito democratico. Io però penso che Internet sia soprattutto uno stile politico, che può essere adottato da realtà ideologiche molto diverse tra loro. Lo si vede in America, dove sia i Tea Party che Occupy Wall Street sfruttano a fondo i media sociali, dando luogo a un´organizzazione orizzontale senza gerarchia e a geometria variabile. Questa struttura può essere molto efficace, ma non bisogna farsi eccessive illusioni. Le rivoluzioni non le fanno Twitter o Facebook. Le fanno sempre le persone reali scendendo in piazza. I media sociali possono solo coordinare, scambiare e amplificare le ricadute del reale. Ma senza mai sostituirsi ad esso».